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BOOKER T. WASHINGTON

vel com a dignidade de pedagogos. Para afastar duvidas, habituei-os a ver-me todos os dias, findas as licções, tomar o machado e encaminhar-me ao bosque. Percebendo que eu não tinha vergonha de trabalhar, todos me acompanharam com enthusiasmo. E conseguimos preparar um campo de tamanho razoavel e semear o nosso trigo.

Emquanto nos occupavamos nisso, miss Davidson fazia todas as especies de combinações para liquidar o emprestimo. Começou organizando festas e ceias pagas. Batia a todas as portas de Tuskegee, e obtinha um bolo aqui, um frango acolá, pães e tortas que á noite se vendiam. Os negros offereceram o que puderam, mas os brancos tambem foram generosos: nesse tempo e depois não nos faltou a contribuição delles.

As ceias de miss Davidson e uma subscripção que fizemos renderam bastante. Todos contribuiram, e tocavam-me o coração as dadivas de negros velhos callejados no captiveiro: moedas de cobre, um cobertor, um feixe de cannas de assucar. Lembro-me perfeitamente da visita que me fez uma negra de setenta annos. Entrou na sala coxeando, apoiada a um bordão, coberta de farrapos, mas farrapos limpos.

— Sr. Washington, disse, passei a maior parte da vida na senzala. Sou bruta e pobre, mas adivi-