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MEMORIAS DE UM NEGRO
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dias depois chegou a resposta: nella o general me dizia que não dispunha da caixa do instituto, mas que do seu proprio dinheiro me enviava a importancia pedida. Isto me trouxe enorme surpresa. Eu nunca havia possuido mais de cem dollars, e a somma que o general Marshall me emprestava era immensa para mim, a responsabilidade do pagamento vexava-me como um fardo pesado.

Fiz a compra e mudei a escola para a velha propriedade. De construcções havia ali um resto de sala de jantar, uma cozinha, uma estrebaria e um gallinheiro, tudo bastante arruinado. Trabalhámos algumas semanas em limpeza e concertos. Reformámos a estrebaria e fizemos della uma sala de classe. Depois foi preciso restaurar o gallinheiro. Quando falei nisso ao preto velho que ali vivia e me auxiliava algumas vezes, o homem arregalou o olho, espantado:

— Que está dizendo, mestre? Limpar o gallinheiro de dia, para todo o mundo ver?

Grande parte das obras foi realizada pelos alumnos, depois dos trabalhos escolares. Logo que tivemos casa, resolvi amanhar um terreno para cultivar trigo, idéa a que os meus jovens amigos torceram o nariz. Não admittiam relação entre a cultura do trigo e a sciencia, e os que tinham sido professores perguntavam se a enxada era compati-