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BOOKER T. WASHINGTON

a gente ambicionava instruir-se para livrar-se do trabalho material. E eu me lembrava de certo preto que, num dia quente de Julho, interrompeu subitamente a limpa do algodoal, ergueu as mãos ao céo e exclamou:

— Deus de misericordia! O algodão não presta, o trabalho é duro e o sol queima como fogo. Parece que este negro vai ser chamado a prégar o Evangelho.

Tres mezes depois da abertura da escola, quando nos achavamos mais cheios de inquietações, uma velha propriedade, a um kilometro de Tuskegee, foi posta á venda. A casa grande, antiga residencia do proprietario no tempo da escravidão, tinha sido queimada, mas o local era excellente. E, examinando o terreno, vi que elle convinha admiravelmente á nossa empresa. O preço não era elevado: quinhentos dollars apenas. O diabo é que não havia dinheiro. Nem dinheiro nem a esperança de encontral-o. O dono da terra fazia o negocio recebendo metade á vista e metade com o prazo dum anno. Transacção optima. Desgraçadamente eu não possuia absolutamente nada.

Nessa conjectura tomei coragem e escrevi ao general J. F. B. Marshall, thesoureiro do instituto de Hampton, expondo-lhe o caso e pedindo-lhe um emprestimo de duzentos e cincoenta dollars. Alguns