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MEMORIAS DE UM NEGRO
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pensar. Se um homem se habituava a fazer qualquer coisa melhor que os outros, se fazia coisas ordinarias de maneira pouco ordinaria, estava seguro na vida. Assim, o negro seria acatado se produzisse objectos indispensaveis á collectividade. Citei o caso dum dos nossos alumnos que chegara a colher duzentos e setenta alqueires de batatas em meio hectare numa terra onde a producção média era apenas de noventa e oito alqueires por hectare. Conseguira esse resultado graças ao conhecimento dos adubos chimicos e á applicação de methodos aperfeiçoados de agricultura. Os lavradores de raça branca vinham pedir-lhe conselhos a respeito do cultivo das batatas. E honravam-no porque, pela habilidade e pelo saber, esse homem augmentara a riqueza do lugar onde vivia.

Evidentemente eu não desejava que o preto se limitasse a produzir batatas de boa qualidade e em grande quantidade, mas se elle soubesse plantar batatas, lançaria as bases duma fortuna que daria a seus filhos e netos o direito de aspirar a situações elevadas.

Foram essas, em resumo, as idéas que sustentei no discurso de Madison. E desde esse tempo nada achei que me fizesse mudar de opinião.

Antigamente eu me enchia de colera, odiava os que, diffamando o negro, exigiam contra elle o rigor, a oppressão, medidas que lhe surripiassem os