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BOOKER T. WASHINGTON

ções que pareciam estabelecer-se entre as duas raças. Naturalmente essa idéa foi combatida, mas a commissão, composta de liberaes, admittiu o orador negro e tratou de escolhel-o. Discutiu varios dias, afinal resolveu chamar-me.

Ser-me-ia difficil explicar a quem nunca se achou em situação analoga á minha a confusão que senti ao receber o convite official. Lembrava-me de ter sido escravo, de ter passado a infancia em pobreza e ignorancia profundas. Não me julgava preparado para aguentar semelhante responsabilidade. Alguns annos antes qualquer branco do auditorio teria podido reclamar-me como escravo. E talvez houvesse ali alguns dos meus antigos senhores.

Era a primeira vez que se convidava um membro da minha raça a falar na mesma tribuna que homens brancos occupavam, em hora de solennidade, perante a riqueza e a cultura da região, os meus amos de outr’ora. Alem de brancos do Sul, haveria brancos do Norte e um numeroso contingente de pretos.

Eu estava decidido a falar a verdade, lealmente. O convite nada continha a respeito do que devia ser dito ou omittido, e isto provava a confiança da commissão directora, pois ahi não se ignorava