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MEMORIAS DE UM NEGRO
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que, por uma palavra inconveniente, eu poderia comprometter o exito da Exposição. Ao mesmo tempo uma idéa me affligia: conservando-me fiel ao meu povo, arriscava-me a commetter incivilidades funestas que teriam como consequencia nenhum negro ser chamado outra vez para reuniões daquella natureza. Aliás era preciso fazer justiça ao Norte e aos elementos bons do Sul.

Os jornaes exploraram longamente o meu futuro discurso, e á medida que elle se approximava os debates tomavam proporções consideraveis. Nas folhas do Sul não faltava quem malsinasse a resolução de se dar a palavra a um negro. Por outro lado os pretos me offereciam conselhos abundantes a respeito do que eu deveria dizer. Nas vizinhanças de 18 de Setembro senti o coração apertar-se, temi um desastre completo.

O convite chegara no inicio do anno escolar, num momento em que os trabalhos me absorviam. Compuz o discurso, li-o a minha mulher, que o approvou. A 16 de Setembro, vespera da viagem a Atlanta, os professores de Tuskegee exprimiram o desejo de conhecel-o. Finda a leitura, pareceu-me que todos estavam satisfeitos.

A 17 pela manhã parti para Atlanta com a mulher e os tres filhos. Sentia pouco mais ou menos a impressão que deve sentir um sujeito que