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BOOKER T. WASHINGTON

marcha para a forca. Ao sahir de Tuskegee topei um lavrador branco do suburbio, que me disse rindo:

— Washington, até agora você falou a brancos do Norte, a pretos do Sul e a nós outros camponezes brancos do Sul. Mas amanhã vai arranjar-se com brancos do Norte, brancos do Sul e pretos, tudo junto. Mau negocio.

Essa franqueza não diminuiu a minha perturbação.

Na viagem de Tuskegee a Atlanta, brancos e negros em quantidade vieram ás estações, falar-me sobre o que iria acontecer no dia seguinte. Em Atlanta muitos brancos foram receber-me. E, ao descer do trem, ouvi estas palavras dum negro velho:

— Está ahi o homem da minha raça que amanhã vai fazer um discurso na Exposição.

A cidade estava repleta. Viera gente de toda a parte, havia representantes de paizes extrangeiros e deputações militares e civis. Os jornaes vespertinos exhibiram manchettes enormes. A minha inquietação crescia. Á noite não consegui dormir. No outro dia muito cedo repassei cuidadosamente o discurso e, segundo o meu costume, ajoelhei-me e rezei. Habituei-me a fazer uma preparação especial quando falo. Dois auditorios nunca são abso-