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MEMORIAS DE UM NEGRO
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— Lançae o balde.

Afinal o capitão do navio perdido desceu o balde, que subiu cheio de agua fresca e pura da boca do Amazonas.

Aos negros que desejam emigrar para conseguir sorte melhor, que se afastam do vizinho branco, direi:

— Lançae o balde ahi onde estaes, procurando a amizade dos homens que vos cercam. Lançae o balde na agricultura, nas artes mechanicas, no commercio, no serviço domestico, em todas as profissões.

— E’ bom nos lembrarmos de que, não obstante os erros commettidos nesta região, o negro acha no Sul, em tudo quanto se refere a negocios, as vantagens conferidas aos outros cidadãos. E os productos hoje aqui expostos demonstram nitidamente esta igualdade. Corriamos o risco de, no salto da escravidão para a vida livre, pretender uma existencia facil e desoccupada. Não nos devemos esquecer de que só prosperamos se aprendermos a exaltar e glorificar o trabalho manual, empregar intelligencia e destreza nos misteres ordinarios, pôr de lado bagatelas e ater-nos ás coisas essenciaes. Nenhum povo se eleva emquanto não souber que é tão digno cultivar um campo como escrever um poema. E’ pela base da vida e não pelo cume que precisamos começar. Não deveriamos permittir que as nossas queixas annullassem os nossos privilegios.

Aos brancos que desejam subordinar o desenvolvimento do Sul á immigração de massas extranhas, de nascimento, linguas e costumes

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