já havia nelles uma certa mudança. Jogados ao mundo com os filhos, precisando resguardar-se e resguardal-os, temiam responsabilidades e inquietavam-se. Eram como crianças de dez ou doze annos obrigadas, sem auxilio, a tomar decisões. Em algumas horas tinham abarcado problemas serios que a raça anglo-saxã resolvera em seculos: o domicilio, uma profissão, a educação dos filhos e emfim deveres sociaes, a necessidade de fundar uma igreja e mantel-a. Não admira, pois, que em pouco tempo os gritos de alegria morressem na senzala e viesse um abatimento profundo. A liberdade, agora adquirida, era coisa muito mais grave que o que tinham pensado. Havia escravos de setenta, de oitenta annos, e esses, coitados, ainda que achassem outra moradia, não tinham força para nenhum trabalho nem podiam viver fóra d´ali, com amos novos. Para elles a liberdade era um peso.
Alem d´isso uma extravagancia enchia os corações, um extranho apego ao senhor velho, á sinhá dona, aos meninos, e contra semelhante fraqueza ninguem se podia defender. Tinham passado juntos meio seculo, era difficil a separação. E, ás escondidas, os negros velhos deixavam, a senzala, iam á casa grande conversar em segredo com o senhor velho a respeito do futuro.