dia cedo mandaram chamar todos os escravos, moços e velhos, á residencia do senhor. Lá fui com minha mãe, meu irmão, minha irmã e mais negros em multidão. A familia branca estava reunida na varanda, uns em pé, outros sentados, de modo que podiamos ver e ouvir bem. Havia nos rostos uma expressão de interesse sincero, talvez de tristeza, mas não de azedume. Recordando-me agora da impressão que experimentei, julgo que aquellas pessoas sentiam menos a perda duma propriedade que a ausencia dos que ali se tinham criado e a que se ligavam por tantos laços. Lembro-me perfeitamente de que um desconhecido, provavelmente funccionario, fez um pequeno discurso e leu extenso documento, a proclamação da liberdade, creio eu. Finda a leitura, disseram-nos que estavamos livres, que tinhamos o direito de ir para onde quizessemos e quando quizessemos. Minha mãe, chorando de alegria, inclinou-se e beijou-nos, confessou que nas suas rezas pedira aquillo, receando que a graça viesse tarde, não a encontrasse viva.
Nos primeiros momentos houve um regozijo doido, agradecimentos, manifestações de enthusiasmo frenetico. E em tudo isso nenhum signal de animosidade para com os antigos senhores. Os escravos estavam commovidos e tinham pena delles.
A alegria excessiva dos negros emancipados só durou um instante: de volta á senzala, percebi que