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MEMORIAS DE UM NEGRO
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isso que não comprou o chapéo na loja; não queria enganar os meus companheiros, exhibindo coisa superior ás nossas posses. Acho optimo que ella não se tenha endividado para adquirir um objecto caro. Tive muitos chapéos depois disso, mas nada me agradou tanto como a casquette fabricada com dois pedaços de fazenda por minha mãe. Tenho notado, bem desgostoso, que, entre os meus collegas que principiaram com chapéo de loja e zombavam da minha casquette feita em casa, varios acabaram na cadeia, outros não conseguem obter chapéo de nenhuma especie.

A segunda encrenca seria que me appareceu vinha da necessidade de achar um nome. Desde pequeno eu era Booker, e antes de entrar na escola não me occorreu que outro nome fosse preciso. Quando fizeram a chamada, percebi que os moleques tinham pelo menos dois nomes; havia alguns que usavam tres, luxo excessivo na minha opinião. Fiquei terrivelmente confuso. Chegada a minha vez, surgiu-me uma idéa luminosa, que resolvia o negocio, foi o que me pareceu. O mestre me perguntou os nomes, e eu respondi, firme:

— Booker Washington.

E assim me fiquei chamando. Soube depois que minha mãe me havia dado o appellido de Taliaferro, muito cedo cahido no esquecimento. Logo