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BOOKER T. WASHINGTON

que o conheci, retomei-o e comecei a assignar-me: Booker Taliaferro Washington. Julgo que poucos homens neste paiz tiveram o privilegio de escolher um nome de semelhante modo.

Tenho ás vezes tentado imaginar-me um sujeito de boa posição social, com antepassados cheios de honra e gloria que me houvessem transmittido, do escuro dos seculos, nome, fortuna, uma propriedade que me desse orgulho; creio, porém, que se tivesse herdado essas vantagens todas, juntamente com a de pertencer a uma raça estimada, inclinar-me-ia a ceder à tentação de confiar nos avós e na côr da pelle, em vez de fazer pelo meu desenvolvimento pessoal o que fosse necessario. Decidi ha muitos annos deixar a meus filhos, em falta de antepassados, uma lembrança que elles possam guardar com altivez, que os anime a progredir.

E´ um erro julgar o negro, especialmente o negro moço, com precipitação e severidade. O rapaz negro lucta com obstaculos, desfallecimentos e tentações que só elle conhece. O moço branco que se mette numa empresa qualquer deve, segundo a opinião geral, sahir-se bem; com o negro se dá o contrario: todos se admiram quando elle não falha. Em resumo, o homem de côr estréa na vida com presumpções contra elle. Comtudo a influencia dos antepassados sobre os individuos, e portanto sobre a raça, tem valor, valor que não se deve exaggerar,