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MEMORIAS DE UM NEGRO
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hotel estivesse ali para acolher os passageiros cançados: não me occorreu que a côr da pelle tivesse qualquer coisa com isso. Quando todos os viajantes se accommodaram e se dispuzeram a cear, apresentei-me timidamente ao homem do escriptorio. Realmente não possuia com que pagar casa e comida, mas esperava merecer a benevolencia do proprietario, pois não tinha onde abrigar-me e as montanhas da Virginia eram frias. Sem me falar em pagamento, o homem recusou-se a tomar o meu pedido em consideração. E comprehendi o que significava a côr da minha pelle. Apesar de tudo consegui aquecer-me andando nos arredores, onde passei a noite. Tão preoccupado me achava com a idéa de alcançar Hampton que nem tive tempo de pensar no hoteleiro.

Finalmente, viajando a pé, em carruagem e em trens, cheguei á cidade de Richmond, na Virginia, pouco mais ou menos a trinta leguas de Hampton. Era alta noite — e sentia-me estafado, esfomeado, sujo. Nunca vira uma cidade grande, e isto me perturbava em demasia. Não tinha um vintem no bolso, um conhecido no lugar, e ignorando os costumes, andava á toa, sem saber para onde ir. Dirigi-me a varias casas, pedindo hospedagem, mas os donos exigiam dinheiro, e era exactamente o que me faltava. {{nop]]