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BOOKER T. WASHINGTON

Transpuz os portões do estabelecimento, apresentei-me a uma funccionaria e pedi-lhe que designasse a minha classe. Como tinha estado longo tempo sem alimentar-me direito, sem me lavar e sem mudar de roupa, o exterior não me favorecia — e percebi que a mulher hesitava em receber-me. Afinal eu não tinha o direito de queixar-me se me tomavam por mendigo ou vagabundo. Durante algum tempo fiquei ali rondando, procurando a melhor fórma de mostrar que, apesar de tudo, era digno de interesse. Emquanto esperei, vi diversos rapazes serem admittidos, e isto me embaraçou enormemente, pois me sentia capaz de fazer tanto como os outros, se me dessem opportunidade. Ao cabo de algumas horas a mulher me disse:

— E´ preciso varrer a sala aqui ao lado. Tome esta vassoura e despache-se.

Comprehendi immediatamente que me havia chegado occasião de exhibir os meus prestimos. Nunca uma ordem foi executada com tanto zelo. Eu sabia varrer: graças á sra. Ruffner, servia-me proficientemente da vassoura. Varri a sala tres vezes, tomei depois um molambo, esfreguei-a quatro vezes. Rodapés, mesas, carteiras, bancos, foram esfregados e reesfregados. Alem disso desloquei os moveis, limpei os cantos, as bandeiras das portas e das janellas. Parecia-me que, em grande parte, o meu futuro dependia da impressão que a limpeza