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BOOKER T. WASHINGTON

viduos duma raça extranha. Eu desejaria que os brancos comprehendessem isto: quanto mais uma raça é abjecta e desgraçada mais se elevam aquelles que procuram eleval-a.

Isto me faz pensar numa conversa que tive com Frederico Douglass. Viajava elle em trem na Pensylvania e, por causa da côr, foi obrigado a metter-se num wagon de mercadorias, tendo pago como os outros passageiros. Alguns brancos foram falar com elle, mostrar descontentamento por vel-o degradado.

— Ninguem poderia degradar Frederico Douglass, exclamou o negro erguendo-se da mala que lhe servia de assento. Nenhum homem degrada a alma que está aqui dentro. Degradados estão os que tentaram envergonhar-me infligindo-me esse tratamento.

Numa região onde a lei exige ainda a separação das côres nos trens assisti a uma scena curiosa, pela qual se via que ás vezes é bem difficil estabelecer linha de demarcação entre as duas raças. Tratava-se dum negro, realmente negro, porque os seus o reconheciam como negro, tão branco, porém, que um perito qualquer se enganava com elle. Esse homem viajava no compartimento dos pretos. O conductor descobriu-o e ficou embaraçado: se o sujeito era negro, não podia viajar no wagon dos