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MEMORIAS DE UM NEGRO
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brancos; se era branco seria injuria fazer-lhe perguntas a respeito de raça. Examinou-o cuidadosamente, observou-lhe os cabellos, os olhos, o nariz, as mãos e continuou perplexo. Emfim teve a idéa de baixar-se e olhar os pés da criatura.

— Isto vai decidir a questão, disse commigo.

Realmente, o funccionario afastou-se, deixando o negro em paz, e a minha raça não se desfalcou, o que achei optimo.

Pode-se julgar a distincção dum homem pelas relações que elle mantem com pessoas de raça menos favorecida que a sua. Não seria possivel encontrar melhor exemplo que o do proprietario do Sul que trata com antigos escravos e descendentes de escravos. A anecdota attribuida a Jorge Washington é significativa. Conta-se que um dia, tendo elle correspondido á saudação dum negro, alguem considerou isto uma condescendencia inutil.

— O senhor não quereria, disse Washington, que um negro pobre e ignorante fosse mais polido que eu.

As minhas relações com os indios revelaram-me, por varias vezes, as extravagancias originadas pelos preconceitos de raça. Um dos rapazes adoeceu e foi-me necessario leval-o a Washington, adquirir no ministerio do Interior um passaporte que lhe permittisse regressar ao Oeste. Nesse tempo eu