António Feliciano de Castilho, que bem se pode chamar o Frei Luís de Sousa moderno, escreveu a respeito de Setúbal estas imortais palavras naquela maviosa linguagem que o tornou o maior e mais doce prosador de nossos dias:
«Quem sabe quantos outros (poetas) iguais ou maiores não poderá ainda criar um torrão, pela amenidade, pelo céu, e pelas circunvizinhanças tão inspirativo: com a Arrábida religiosa a um lado, vestida dos seus rosmaninhos e alecrins; e Palmela a devanear do seu castelo proezas guerreiras doutras idades; doutro lado Troia, a romana antiga, que para ali se jaz; e o Oceano, a meditação imensa; torrão das laranjeiras noivas, como a Itália; e por baixo tesoiro de jaspes e mármores, resguardados para estátuas de seus filhos. Solo providencialmente prendado de tudo, e donde, ainda há dois dias, um insigne poeta dinamarquês, o nosso amigo Andersen, estanciando aí depois de percorrida a Europa, me escrevia que tinha encontrado ao cabo o Paraíso Terreal.»[1]
Castilho não fora realmente exagerado no formosíssimo bosquejo que
- ↑ Cartas do Exmo. Senhor António Feliciano de Castilho e da Câmara Municipal de Setúbal a respeito do monumento a Bocage. Setúbal, 1867.