Página:Memoria sobre a historia e administração do municipio de Setubal.djvu/14

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a sua delicada pena traçou de Setúbal, nem também o fora o grande poeta dinamarquês Hans Christian Andersen, que, em 1866, esteve hospedado na quinta dos Bonecos, então propriedade do Sr. Carlos O'Neill, e hoje da viúva deste cavalheiro, quinta situada em local pitoresco, a menos de um quilometro da cidade de Setúbal. Torrão das laranjeiras noivas, como disse Castilho, paraíso terreal, como lhe chamara Andersen, tudo isso é Setúbal, a mais deliciosa paragem que, depois de atravessado o Tejo, havemos encontrado, a mais fresca, mais graciosa, rechnada no seu camarim de verdura, à beira do amplo e belo rio Sado, sempre noiva, oferecendo o espetáculo do mar, a meditação imensa, aos que mais profundamente gostam de meditar, e a serena alegria dos seus passeios campestres aos que mesmo pensando não prescindem dos sorrisos da natureza.

Amontoam-se as trevas da antiguidade sobre a origem e etimologia desta cidade, como se amontoam as graças dum noivado perpétuo sobre o terreno em que ela se acha edificada.

A maior parte dos escritores antigos dá como fundador de Setúbal a Tubal, neto de Noé. Entre eles frei Bernardo de Brito, o padre António Carvalho da Costa, Heitor Pinto, João Baptista de Castro, etc. E, partindo dessa origem, supõem que a etimologia de Setúbal se deriva de Sedes Tubal, residência de Tubal.

Os modernos processos de escrever a história recusam, porem, estas origens fabulosas, que só uma coisa mostram claramente, e é que o segredo da fundação e etimologia de Setúbal se perdeu inteiramente por demasiado antigo. Ficaram apenas de pé as conjeturas, mais ou menos prováveis e refletidas.

Tanta é a antiguidade em que vão afundar-se todas as investigações feitas neste sentido, que no território, compreendido nos limites do atual concelho de Setúbal, parece ter havido habitantes nas idades que hoje se denominam pré-históricas, como o deixam presumir vários instrumentos achados em diferentes legares. No sítio das Torres Altas apareceu um machado de pedra, que faz supor terem ali existido os homens rudes das idades primitivas. Tem o machado a que nos vimos referindo, e que hoje está em poder do Sr. João José Pacheco, uma superfície de