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—Vêr o que, homem? pois eu quando como, olho lá o preço das iguarias? peço o que quero, porque não venho a estas casas comer de graça, fique sabendo, mas isto é um roubo.

—Confira pela lista e verá que lhe não levamos um vintem de mais...

—Não sou conferente de casas de pasto, ouvio? bradou o homem com nobre altivez. Confira vossê.

O proprietario do estabelecimento que se achava ao balcão, dirige-se ao cavalheiro, e com bons modos, lhe disse que se não amofinasse, que a conta estava exacta, mas se não queria pagar—seria o mesmo.

—Tenho muito dinheiro, alardeou o freguez; não preciso do seu jantar. Nem ando comendo nos botequins; se entrei neste, antes foi para esperar que passasse a chuva do que para outro fim. Almoço, janto e ceio no hotel da Europa, porém, não quero ser roubado, não estamos na Siberia.

Ein, Siberia?

—Pois, senhor, a chuva já passou, V. S. não deve nada, respondeu o proprietario.

—Então, não reforma a conta?