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Página:Memorias de um sargento de milicias.djvu/222

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as duas assim preparadas do quarto de vestir, quando sentiu-se rodar uma carruagem e parar na porta da casa. Luisinha estremeceu; D. Maria levou o lenço aos olhos, e tirou-o em pouco tempo molhado de lágrimas.

— Está ai a carruagem, gritou uma das crias que estava de sentinela à janela.

A carruagem era um formidável, um monstruoso maquinismo de couro, balançando-se pesadamente sobre quatro desmesuradas rodas. Não parecia coisa muito nova; e com mais dez anos de vida poderia muito bem entrar no número dos restos infelizes do terremoto, de que fala o poeta.

Mal tinha este trem parado à porta, sentiu-se o rodar de outro que veio parar junto dele. O que dissemos a respeito dos vestidos de D. Maria e sua sobrinha pode perfeitamente aplicar-se aos dois trens; o segundo parecia filho legitimo do primeiro.

Do último que chegara apeou-se José Manuel, e entrou em casa de D. Maria, que o veio receber à porta.

É inútil observar que a vizinhança estava toda à janela, e via todo aquele movimento com olhos regalados pela mais desabrida curiosidade.

José Manuel trajava casaca de seda preta, calções da mesma fazenda e cor; trazia meias também pretas e sapatos de entrada baixa, ornados com enormes fivelas de prata, espadim e chapéu de pasta.

Acompanhavam-no dois amigos vestidos pelo mesmo teor.

José Manuel estava com um ar entre compungido e triunfante, e desfazia-se em mesuras à D. Maria.