Página:Memorias de um sargento de milicias.djvu/274

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não sabemos por que instinto leu o que pensava o Leonardo, e pôs-se em guarda.

O Leonardo tomou repentinamente sua resolução.

— Ora, adeus, disciplina, disse consigo; hei de dar escapula ao homem, seja lá como for.

E do lugar em que estava acrescentou alto:

— Ah! Sr. Teotônio, quer saber uma coisa? Pois se puser o pé daquela porta para fora, o major põe-lhe a unha, que para isso está ele à sua espera, e para aqui me mandou...

— Ó diabo! exclamaram todos.

— Mas nada de sustos; tudo se há de arranjar, que tenho eu boa vontade disto.

— Mas não te comprometas, rapaz, acrescentou a comadre ao ouvido do Leonardo; olha que o major não é de graças, e daí te pode vir mal.

— Ora, tenho pena dele só por aquelas caretas.

Juntaram-se então os dois, Leonardo e Teotônio, e juntos concertaram o seu plano de modo que este escapasse ao major, e que aquele não ficasse comprometido.

Estava já a noite muito adiantada, ordenaram os dois que saíssem ao mesmo tempo muitos convidados, e o Leonardo, partindo adiante deles, foi correndo ter com o major.

— Aí vem o bicho, Sr. major.

— Cerca, cerca! disse o major.

E cada um se dividiu para seu lado.

O major colou-se à porta de um corredor, e pôs-se de olho alerta.

Veio-se aproximando ao major um vulto assobiando tranqüilamente o estribilho de uma modinha. Quando se achou em pequena distancia o major deu um salto donde estava e segurou-o.