Página:Memorias de um sargento de milicias.djvu/291

Wikisource, a biblioteca livre

— Ai criatura, acudiu D. Maria, que até então estivera calada, cansada talvez do número prodigioso de mesuras que fizera ao entrar; deixai cada um lembrar-se do seu tempo, isto consola; eu cá gosto bem quando acho...

— É como eu, respondeu o major; em se me tocando cá nas feridas antigas...

— Pois é mesmo por me lembrar destas feridas antigas, atalhou a Maria-Regalada, que venho aqui com estas senhoras donas, que o Sr. Major bem conhece; e se não foram elas cá não viera, pois o negócio é sério...

A comadre achou a ocasião bem apanhada, e fez com a cabeça um sinal de aprovação.

— Vamos lá ver o que é o tal negócio sério, respondeu o major atinando, pela presença da comadre, pouco mais ou menos com o que era, e pelo que fez um sinal duvidoso com a cabeça, ou para fazer-se de bom, ou porque realmente não quisesse abrir largas esperanças.

A interlocutora prosseguiu:

— O seu granadeiro Leonardo é um bom rapaz.

O major arqueou franzindo as sobrancelhas, e repuxou os beiços, como quem não concordava in totum com aquilo...

— Não me comece já com coisas, Sr. major. Pois é, sim, senhor, muito bom rapaz, e não há razão para ser castigado, por causa de uma coisa nenhuma que fez... isso Não é razão, não, senhor, para se mandar tocar de chibata um moço que não é nenhum valdevinos; pois o Sr. major bem sabe que o padrinho quando morreu deixou-lhe alguma coisa, que bem lhe podia estar já nas mãos, e ele por isso livre da maldita farda, a quem sempre