Página:Memorias de um sargento de milicias.djvu/93

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vendo que não era o orador costumado, exclamaram despeitadas:

— Arrenego!

— Deus me perdoe.

— Pois aquilo é que prega hoje?...

Apesar porém de tudo isto, a atenção foi profunda e gera., animando a todos uma grande curiosidade. O orador começou: falava já há um quarto de hora sem que ninguém ainda o tivesse entendido: começavam já algumas velhas a protestar que o sermão todo em latim não tinha graça, quando de repente viu-se abrir a porta do púlpito e aparecer a figura do mestre-de-cerimônias adiantou-se, afastou com a mão o pregador italiano, que surpreendido parou um instante, e entoou com voz rouca e estrondosa o seu per signum crucis. Aquela voz conhecida o povo despertou do aborrecimento, benzeu-se, e se dispôs a escutá-la. Nem todos porém foram desta opinião; entenderam que se devia deixar acabar o capuchinho, e começaram a murmurar. O capuchinho não quis ceder de seu direito, e prosseguiu na sua arenga. Foi uma verdadeira cena de comédia, de que a maioria dos circunstantes ria-se a não poder mais; os dois meninos, autores principais da obra, nadavam em um mar de rosas.

— Ó mei cari fratelli! exclamava por um lado o capuchinho com voz aflautada e meiga, la voce de la Providenza...

— Semelhante às trombetas de Jericó, rouquejava por outro lado o mestre-de-cerimônias...

— Piage al cor... acrescentava o capuchinho.

— Anunciando a queda de Satanás, prosseguia o mestre-de-cerimônias.