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que correm do lado de Oeste da Serra de Monte Santo, e a Serra da Itiuba onde predomina o granito, o gneiss, os diuritos, e syenitos formam a linha de horizonte de uma grande zona formada de valles profundos, extensos, através dos quaes na época das trovoadas, as grossas chuvas de enchurradas rasgam sulcos immensos, que conduzem as aguas para o Itapicurú-Assú, unico rio de corrente constante em toda esta parte considerável do sertão da Bahia.

A falta de chuvas regulares dá á zona que percorremos um aspecto desolador, e a vegetação das gramineas e outros pequenos arbustos, que cobrem durante o inverno, a camada de areia mais ou menos espessa que se estende sobre os taboleiros, desapparece completamente durante a quadra abrazadora do verão.

Algumas lagoas fornecem agua de péssima qualidade, apenas para o consumo da criação.

Na parte do sertão que fica além da Serra Grande onde não chega o inverno, os criadores vêm-se na dura necessidade de dar agua aos animaes á ração, até que cheguem as chuvas de trovoadas que, abastecendo os caldeirões, tanques e ipoeiras, os colloca em melhores condições até o anno seguinte.

A miséria é grande, quando faltam as chuvas de trovoadas durante dous ou mais annos; no entretanto, logo que as regas naturaes apparecem em quantidade sufiiciente e nos épocas próprias, ha abundancia de excellenles e variados mantimentos.

As culturas unicas que podem resistir a essas irregularidades de rega e até mesmo a seccas prolongadas, são a do algodão e a do fumo, as quaes vão tendo felizmente grande desenvolvimento, graças á facilidade nos meios de transporte, que só agora tem-se aberto para os centros consumidores.

O thermometro centígrado á sombra chega muitas vezes a 35°.

As noites são frescas.

O sertão do província da Bahia que percorremos não se descreve, só se comprehende vendo. Fazemos nossas as palavras do professor J. M. Caminhoá, e aqui deixamos transcriptas as suas observações sobre o sertão, por isso que não temos a pretenção de dizer melhor.

Diz o professor J. M. Caminhoá :

« Ha um erro em que tèm incorrido muitos sábios e naturalistas que não estiveram no Brazil, e foram mal informados, e outros que aqui estiveram, mas visitaram os sertões sómente no tempo da sêcca; este erro consiste em considerarem aquellas paragens como desertos áridos, sem vegetação e inhabitaveis.