Página:Mister Slang e o Brasil.pdf/180

Wikisource, a biblioteca livre
— 178 —

nheiro, fazem-se navios com dinheiro tomado de emprestimo e o custo delles se escoa inteiro em troca de ferro que enferruja, atraza-se e perde todo o valor como arma muito antes que seja amortizada a quarta parte do emprestimo respectivo. Ora, isto cheira-me a absurdo, não acha?

— Como fazer, então? Permanecermos inermes?

— Não. Apenas pensar em armas que estejam ao alcance do paiz, deixando as armas dos paises ricos para os ricos. Alem disso, o couraçado já teve a sua época. Desde que appareceu o submarino começou a sua decadencia e hoje, depois do avião, está irremediavelmente morto. O elephante é uma fragil coisa, si o ataca uma nuvem de moscardos bombardeadores. A éra dos grandes navios passou, e conserval-os, com desconhecimento disso e desprezo pela arma nova que os vem substituir, é preparar momentos tristes para o futuro.

— Mas a Argentina, unico inimigo provavel com que temos de contar, tambem possue couraçados.

— Sim, mas sempre em dia, sem o tal atrazo que caracterisa os seus equivalentes no Brasil. Apesar disso a Argentina, mais previdente, já creou a sua nuvem do moscardos. Possue numeroso corpo de pilotos e numerosos aviões. Trezentos pilotos e outros tantos aviões terá ella.

— E nós?

— Uns quarenta pilotos, dos quaes nem um só trenado em guerra. Quanto a aviões, em estado de voar, haverá dois ou tres. O resto, em desmantelo, enferruja-se nos hangares e só serve para onerar o orçamento e fazer numero.

— E' tragico isso que me está dizendo, Mr. Slang.

— Por enquanto, apenas curioso, respondeu elle; mas não nego que poderá tornar-se tragico um dia...