Página:Mulheres e creanças.djvu/148

Wikisource, a biblioteca livre
142
MULHERES E CREANÇAS

Levara comsigo os mesmos sonhos que a tinham perseguido, imaginava casas imprevistas, edificava hypotheses extravagantes; á força de ambicionar a riqueza, acabava por se convencer que havia de ser rica.

E agora!

Tudo que a cercava era tão mediocre!

Se tivesse pachorra, se tivesse boa vontade, podia enfeitar com plantas o seu pequenino quarto de trabalho, pôr ao menos umas cortinas de cassa branca na janella.

Não tendo a riqueza, podia ter o aceio; não tendo o luxo, podia ter a graça.

Os livros bem dispostos sobre a mesa, cujo tapete ella propria houvesse feito ao serão, uma jarra de louça com um ramo de madresilva ou de rosas de maio, as cadeiras agrupadas com um certo ar de intimidade e de alegria, um aspecto de pobreza satisfeita que faz tão bem á alma!

Vestiria um simples roupão de fazenda clara, sem enfeites, mas de um feitio elegante e gracioso, os cabellos bem penteados, uma flôr presa nas tranças.

Iria ella mesma á cosinha arranjar uns pratinhos de que elle gostasse, o pobre trabalhador que á noute voltaria cansado, mas cheio de fé robusta e de profundas crenças, porque o amor o amparava e lhe sorria!