A lua de mel é uma mentira; não existe, ou, se existe, não deve de modo nenhum existir, o que vem a dar na mesma.
Esse periodo officialmente consagrado, que se funda em toda a especie de impostura, deve ser abolido sem appellação por todos os pares honestos que se estimem e prezem.
Imagine-se por um instante que os novos conjuges assumiram a liberdade de formularem em palavras tudo que tivessem no pensamento, o que diziam um para o outro:
«Já conheço todos os teus defeitos, já sei que hei de vir a dar-me muito mal comtigo: achei-te ainda agora profundamente ridiculo n’aquella phrase que me disseste; mas como estamos na lua de mel, deixa-me que te beije com transporte, que te recite ao piano o idyllio apaixonado da minha ventura, que olhe para ti com a sentimentalidade piégas com que os caixeiros romanticos olham para as namoradas, que minta emfim conscienciosamente, como compete a quem se acha de posse de uma posição official e a quem não póde renunciar sem desdouro!»
Não seria profundamente ridiculo este dialogo?
Pois sabe, minha querida, que em cada cem casaes, oitenta podiam em boa consciencia traval-o entre si.