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MULHERES E CREANÇAS

Criados graves, solemnes, de olhar sonso, que vivessem da minha vida, que maculassem com a sua ironia baixa as santas expansões do meu affecto de marido e de pae, que invejassem a minha felicidade, que calumniassem as minhas intenções, os meus actos, a minha vida toda!

Ao jantar um ou dous d’aquelles figurões altos, espadaudos, ociosos, vestidos de preto, haviam de espreitar com olhar guloso cada bocado que eu mettesse na bôca; teria um cozinheiro gordo, de barrete branco, que me fizesse molhos indigestos, uma criadinha de quarto buliçosa, e petulante que se risse do burguezismo pacato dos meus habitos.

Viveria escravo, preso nas malhas de ouro, d’esta grande rede que se chama a riqueza.

Receberia muitas visitas, muita gente indifferente ou hostil, que viesse para me bajular, e que se fosse embora para me morder traiçoeiramente pelas costas.

Uma governante ingleza empavezada, grotesca, um pouco pedante, cortaria na sua flôr, na querida alma transparente do meu pequeno anjo, os carinhos, as expansões innocentes, os risos inextinguiveis e sem causa, tudo que é hoje a nossa alegria!

E depois, habituado ao luxo não sentiria o conchego! Satisfeitos até á saciedade todos os desejos,