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Página:No seio da Virgem Mãe (1922).djvu/16

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III [1]

Ao precioso artigo em que o director desta Revista ([2]) tratou há pouco da quadra mística

No seio da Virgem-Mãe
incarnou divina graca:
entrou e saiu por ela
como o sol pela vidraça

que, sem ser criação do vulgo, figura nos Cancioneiros Populares, e nesse estado causa a justa admiração de nacionais e estrangeiros, posso acrescentar mais alguns traços em demonstração da popularidade do delicado símile, ou seja da delicada concepção da conceição nela expressa.

Se Cláudio Basto nos mostrou que o primeiro que disse

Sol penetrat vitrum, nec frangitur aut violatur,
sic Virgo peperit, nec maculata fuit.

primeiro, pelo menos até que seja descoberto outro artista mais antigo, — foi um teólogo-filósofo medieval: aquele Pedro Lombardo, bispo de Paris, cujos quatro livros de Sentenças conteem tôda a doutrina dos Padres da Igreja, exposta com tanta clareza e serenidade que ficaram sendo o Manual predilecto do século XII e modêlo para outros posteriores, eu tinha demonstrado, há alguns

anos, que, propalada seguramente na Igreja em

  1. Publicado na Lusa, ii, 145-146 (n.os 43-44, de 15-Dez.-1918 e 1-Jan.-1919), sob o título: No seio da Virgem-Mãe.
  2. Lusa, i, pág. 69-70.