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E certamente, quanto mais eu fôr lendo, tantos mais paralelos do formoso trecho do Magister sententiarum (1164) hei-de encontrar.

Costumo alegar a quadra portuguesa como prova de que «Poesia popular é aquela que o povo canta». Canta... ou recita, porque nunca ouvi cantar No seio da Virgem-Mãe, nem No ventre da Virgem bela, nem tampouco a lição seguinte, que colhi em Ponte-do-Lima, em conversa com uma velha de Ourense:

Pariu o verbo divino
a virgem, cheia de graça:
entrou e saiu por ela
como o sol pela vidraça.

Muito gostava de ouvir a melodia correspondente, a ver se é popular ou erudita.

Carolina Michaëlis de Vasconcelos.

IV

Aos quatro reflexos neo-latinos acima registados posso juntar, ao cabo de três anos, um único novo.

Do último quartel do século XV. Obra de Gomez Manrique, aquele nobre, erudito e modesto prócer castelhano, cujos versos o rei de Portugal D. Afonso V debalde ambicionou possuir; o que trocou versos, em português, com um dos colaboradores

do Cancioneiro Geral ([1]); tio de Jorge

  1. Álvaro de Brito. Vid. Menendez y Pelayo, Antologia, vol. VI, p. LV-CIII.