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NOVELLAS EXTRAORDINARIAS

posso mostrar senão amanhã pela manhã. Fica aqui esta noite e amanhã, ao nascer do sol, mandarei Jupiter buscal-o. E'a cousa mais bella da creação!

— O que? o nascer do sol?

— Não, homem! o escaravelho! Imagina que tem o tamanho d'uma noz, pouco mais ou menos, côr de ouro, com duas malhas negras como azeviche n'uma extremidade das costas e uma terceira mais alongada na outra. As antennas são...

— De ouro, Massa Will, interrompeu Jupiter. O escaravelho é todo de ouro, por dentro e por fóra, excepto nas azas; é de ouro massiço. Nunco na minha vida vi um escaravelho tão pesado!

— Está bom, Jupiter, replicou Legrand com certa acrimonia. Trata de não deixar queimar as gallinhas e cala-te. Depois voltando-se para mim, accrescentou.

— A côr do insecto effectivamente quasi que torna plausivel a idéa de Jupiter. Não póde haver um metal mais brilhante que os seus elytros. Verás amanhã. Entretanto, vou dar-te uma idéa da sua fórma.

Assim falando, assentou-se a uma pequena banca, sobre a qual estavam pennas e tinta. Procurou papel n'uma gaveta, mas, não o achando, tirou da algibeira um boccado de velino antigo, muito sujo.

— Não importa, disse elle por fim, isto faz o mesmo effeito. E começou a desenhar uma especie deesboço á penna.

Durante esse tempo, conservára-me sentado ao pé do lume, porque o frio era sempre intensissimo. Quando acabou o desenho, Legrand passou-m'o, sem se levantar. No mesmo instante ouviu-se um grunhido lá de fóra, seguido de arranhadelas à porta. Jupiter abriu, e um enorme cão da Terra Nova, pertencente a Legrand,