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Página:Novellas extraordinarias.pdf/207

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O ESCARAVELHO DE OURO
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precipitou-se no quarto, saltou-me aos hombros e fez-me muitas festas, porque eu costumava sempre acaricial-o nas minhas visitas a Sullivan. Quando o animal acabou as suas demonstrações de alegria, olhei para o papel e, para dizer a verdade, fiquei devéras intrigado com o desenho do meu amigo.

— Sim, disse eu, depois de o ter contemplado alguns intantes, confesso que é o escaravelho mais exquisito que tenho visto na minha vida! Posso mesmo dizer que nunca vi nada semelhante, a não ser um craneo ou uma caveira, o que o teu desenho representa exactamente.

— Uma caveira! repetiu Legrand. Ah! sim, comprehendo. O desenho faz lembrar um pouco... As duas malhas negras superiores fazem os olhos e a mais alongada, que está um pouco abaixo, figura uma bocca. Além disso, a fórma geral é oval.

— É talvez isso, disse eu. Mas parece-me que não és lá um grande artista, Legrand. O melhor é esperarmos que venha o proprio escaravelho, para eu então fazer idéa da sua physionomia.

— Pois, sim, tornou elle levemente despeitado. Mas não sei como isso possa ser. Creio que desenho bem, ou pelo menos devia desenhar, porque tive bons mestres e lisonjeio-me de não ser nenhum bruto.

— Mas então, meu caro amigo, volvi eu, estás a zombar de mim; o que aqui está pintado é um craneo, e um craneo muito bem feito, perfeitamente em regra com todos os preceitos da osteologia. Quanto a escaravelho, não vejo aqui nada que se pareça com isso. Provavelmente chamas ao teu insecto scarabœus caput hominis ou cousa que o valha; nos livros de historia natural encontram-se muitas denominações n'este