Esta carta causou-me grande inquietação. Legrand não escrevia assim habitualmente. Em que diabo pensava elle? Que nova phantasia lhe germinava no cerebro? Que seria o tal negocio de tão alta importancia? A narrativa de Jupiter não presagiava nada de bom. Comecei a receiar que a pressão contínua do infortunio tivesse, por fim, desarranjado a razão do meu amigo. Sem hesitar um instante, preparei-me a acompanhar o negro.
Quando chegámos ao cáes, vi uma fouce e duas enxadas novas, no fundo do barco que devia transportar-nos.
— Que é isto, Jupiter? perguntei eu.
— Isto são duas enxadas e uma fouce.
— Bem vejo; mas para que são?
— Massa Will mandou-me comprar na cidade duas enxadas e uma fouce. Não sei para que elle as quer; mas diabos me levem se aqui não anda ainda a questão do escaravelho!
Vendo que não podia tirar outros esclarecimentos de Jupiter, cujo entendimento parecia inteiramente absorto no escaravelho, metti-me no barco e soltei a véla. O vento estava magnifico; em pouco tempo achavamo-nos no forte de Moultrie, e depois de um passeio de duas milhas, pouco mais ou menos, chegámos á cabana; eram proximamente tres horas da tarde.
Legrand esperava-nos com uma impaciencia febril. A effusão nervosa com que me apertou a mão, augmentou as minhas suspeitas. Legrand estava horrorosamente pallido, e os seus olhos, naturalmente fundos, tinham um brilho sobrenatural. Depois de algunas perguntas relativas à sua saude, não achando mais nada que lhe dizer, perguntei-lhe se o commandante G... lhe tinha restituido o escaravello.
Oh! decerto! replicou elle, corando muito, restituiu-