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O ESCARAVELHO DE OURO
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— Até aonde é preciso subir, Massa? perguntou Jupiter.

— Trepa primeiro ao tronco, depois eu te direi o caminho que has de seguir. Ah! espera, leva o escaravelho contigo.

— O escaravelho, Massa Will! o escaravelho de ouro! exclamou o negro recuando de espanto. — Diabos me levem se eu n'elle pegar!

— Como, Jupiter! Tens medo do escaravelho? Um negro grande e forte como tu com medo de tocar n'um pequeno insecto morto e inoffensivo! Pois bem, leva-o prêso a esta guita, se queres; mas se não o levas, d'uma maneira ou d'outra, vêr-me-ei na cruel necessidade de te abrir a cabeça com esta enxada.

— Vallia-me Deus, Massa! — disse Jupiter a quem os ultimos argumentos de Legrand tornavam evidentemente mais complacente. — Não se zangue com o pobre negro. Era brincadeira. Eu ter medo do escaravelho! Importo-me lá com o escaravelho!

Disse, e pegando na extremidade da guita, com todas as precauções, começou a trepar á arvore, afastando sempre o mais possivel o escaravelho da sua pessoa.

Emquanto novo, o tulipeiro ou Liriodendron Tulipiferum, a mais bella das arvores florestaes americanas, tem um tronco muito liso, e eleva-se á maior parte das vezes a uma altura enorme, sem lançar ramadas lateraes; mas quando chega á madureza, a casca torna-se rugosa, desegual, e pequenos rudimentos de ramos manifestam-se em grande numero sobre o tronco. Por isso a escalada, n'este caso, era muito mais difficil em apparencia que na realidade. O negro abraçou o enorme cylindro com os braços e com os joelhos, e deitando as mãos a alguns dos rebentos que cresciam em tôrno da arvore, firmando os pés nos outros, chegou finalmente, depois