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SILENCIO[1]





Escuta, — disse o demonio, pousando a mão sobre a minha cabeça. — O paiz de que te falo, é um paiz lugubre, na Libya, sobre as margens do rio Zaire. E alli não ha repouso nem silencio.

As aguas do rio, amarellas e insalubres, não correm para o mar, mas palpitam sempre sob o olhar ardente do sol, com um movimento convulsivo. De cada lado do rio, sobre as margens lodosas, estende-se ao longe um deserto sombrio de gigantescos nenuphares, que suspiram na solidão, erguendo para o céo os longos pescoços espectraes, meneando tristemente as cabeças sempiternas. E do meio d'elles sáe um sussurro confuso, semelhante ao murmurio de uma torrente subterranea. E os nenuphares, voltados uns para os outros, suspiram na solidão.

E o seu imperio tem por limites uma floresta alta, cerrada, medonha! Lá, com as vagas em torno das Hébridas, os pequenos arbustos agitam-se sem repouso, (comtudo não ha vento no céo!) e as grandes arvores primitivas oscillam continuamente, com um estrepito enorme. E dos seus cumes elevados, filtra gotta a gotta

  1. O Dr. Adherbal de Carvalho traduzia em bellos versos este conto. Vide Ephemeras, Aillaud, edit.