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NOVELLAS EXTRAORDINARIAS

um orvalho eterno. E a seus pés estorcem-se, n'um somno agitado, flores desconhecidas e venenosas. E por cima das suas cabeças, com um ruge-ruge retumbante, precipitam-se as nuvens negras, a caminho do occidente, até rolarem em cataractas para traz da muralha abrazada do horisonte. E nas margens do rio Zaire não ha nem repouso nem silencio.

Era noite, e a chuva cahia; e emquanto cahia era agua, mas quando chegava ao chão era sangue! E eu estava na planície lodosa, por entre os nenuphares, vendo a chuva que cahia sobre mim. E. os nenuphares, voltados uns para os outros, suspiravam na solemnidade da sua desolação.

De repente, appareceu a lua através do nevoeiro funebre; vinha toda carmezim; e o meu olhar cahiu sobre um rochedo enorme, sombrio, que se erguia á borda do Zaire, reflectindo a claridade da lua; era um rochedo sombrio, sinistro, de uma altura descommunal!

Sobre o seu cume estavam gravadas algumas lettras. Caminhei através do pantano dos nenuphares, até á margem, para lêr as lettras gravadas na pedra; mas não pude decifral-as. Ia tornar para traz, quando a lua brilhou mais viva e mais vermella; olhando outra vez para o rochedo, distingui os caracteres. E esse caracteres diziam: Desolação.

Levantei os olhos; na crista do rochedo estava um homem de figura magestosa. Pendia-lhe dos hombros a antiga toga romana, cobrindo-o até aos pés. Os contornos da sua pessoa não se distinguiam, mas as feições eram as da divindade, porque brilhavam através da escuridão da noite e do nevoeiro. Tinha a fronte alta e pensativa, os olhos profundos e melancolicos. Nas rugas do semblante, liam-se-lhe as legendas da desgraça e da fadiga, o aborrecimento da humanidade e o amor da