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NOVELLAS EXTRAORDINARIAS

plumagem; adivinha-se que a idéa do busto foi suggerida unicamente pelo passaro; o busto escolhido foi o de Pallas, primeiro pela sua relação intima com a erudição do amante, depois por causa da sonoridade da palavra Pallas.

No meio de poema, aproveitei egualmente da força do contraste, com o fim de preparar a impressão final. Assim, dei a entrada do passaro uma fórma phantastica, ligeiramente comica, tanto pelo menos como o assumpto podía admittil-o. Elle entra com um bater de azas tumultuoso.

"Sem me fazer uma simples cortezia, adeantou-se, com a importancia de um lord ou de uma lady, e empoleirou-se n'um busto de Pallas, collocado justamente por cima da porta do meu quarto."

Nas duas estancias seguintes o designio torna-se ainda mais manifesto.

A gravidade do seu aspecto e a severidade da sua physionomia fizeram sorrir a minha triste imaginação: "Embora a tua cabeça, disse-lhe eu, não tenha pôpa nem cimeira, não és por certo um passaro ordinario. Dize-me qual o teu nome senhorial nas costas da noite plutonica!" O corvo disse: "Jámais!"

Fiquei pasmado de vêr aquelle desengraçado volatil comprehender assim a palavra, posto que a sua resposta não tivesse um grande senso, nem respondesse de modo algum á minha pergunta: porque é preciso confessar que nunca foi dado a um homem vivo vêr, por cima da porta do seu quarto, um passaro ou um bicho, sobre um busto esculpido, com semelhante nome de Jámais.

Tendo preparado o effeito do desfecho, abandonei im-