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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/105

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— O filha, que queres tu?... É o meu feitio. Já tinhas tempo de me conhecer... Sou mono, carrancudo, seco moral e fisicamente, é verdade; mas — acrescentou estendendo os braços para o leito ao lado, numa solicitação conciliadora — quero-te muito, Vivi!... Tu bem o sabes!
— Se assim te conheces tão bem, não devias estranhar que eu ouvisse com agrado as pessoas que são amáveis para comigo... Tu quase que não tens para mim uma palavra afetuosa!... Se os outros ma dirigem, gosto... não por quem mas diz, que tolice! Mas unicamente por elas... por essas palavras de um efeito tão docemente inefável, que para a vida da mulher são tanto ou mais precisas do que o pão.

O barão tinha-se levantado; e, todo curvo sobre o leito da esposa, vencido, humilde, murmurou — Tens razão, Elvira... Fui brutal... Perdoa-me! — passando esta última prece num beijo timorato e súplice aos lábios da baronesa. Ela porém repeliu: — Ora, deixa-me! — ainda enfadada do que ouvira, e já começando a gozar na submissão do marido a voluptuosidade da vingança.

Mas o barão sentia-se todo arrepelado de uma comoção complexa, estranha. A contrição, à dor, à piedade, naturalmente suscitada no seu ânimo bom e generoso pela aflição da baronesa, juntavam-se agora, num somatório absoluto de tirania, a hiperestesia da sua virilidade ao contacto daquela mulher jovem e formosa, e, mais que tudo, um desejo veemente de posse, acordado pelas pretensões audazes de Xavier da Câmara. — Aquela mulher adorável era dele, só dele e muito dele!... Como podia haver um idiota que pensasse na infâmia