Quando entrou na alcova, a baronesa estava já deitada. Voltada à parede, enroscada, imóvel, o seu corpinho pequeno e redondo perdia-se na farta amplidão das coberturas; a sua faca fosadita e leve, toda afofada na alvura da travesseira, lembrava um bouquet de rosas num cartucho de velino rendilhado; e os fios mais claros do seu cabelo castanho tomavam na incidência discreta da luz vinosa da lâmpada uns laivos ténues de ametista.
Deitou-se também o barão, na sua cama, carregado, mudo, impando, ao voltar-se para a parede, uma funda expiração de raiva.
Procurou dormir... Impossível. Na luz crepuscular da alcova as pupilas teimavam em abrir-se, muito leves, erguidas pela mola de uma excitação mordente. Por mais esforços que fizesse em contrário, a cena com a esposa voltava a galopar-lhe no cérebro, arreliadora, estúpida... Nisto pareceu-lhe distinguir um ruído... Ouvido fora da roupa... Era a mulher que soluçava.
Ele então deu entre os lençóis um pequeno salto involuntário; e, subitamente compadecido, mas querendo fingir de forte:
- — Estás a chorar?... Ainda em cima!... — E como ela, passivamente, continuasse no mesmo soluçar magoado: — E boa esta!... Porque choras, afinal?...
- — Se te parece!... Ligada a um homem que me não estima, que me não faz companhia nenhuma, que só tem para mim palavras duras...
O barão voltou-se para a esposa e respondeu, com a voz quebrada por um enternecimento carinhoso:
- — Tu és tola! Pois eu não sou teu amigo?
- — Ao teu modo...