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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/103

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A baronesa, no quarto de toilette, começou-se a despir, atabalhoadamente, com estes gestos sacudidos e doidos em que nos faz cabriolar os músculos uma emoção violenta. Ao despentear-se, o jogo seco dos braços tirou das articulações uns estalinhos brancos; depois, as pulseiras caíram com ímpeto, num tilintar elástico, sobre o mármore do toucador; os colchetes, fivelas e alamares do vestido arranharam deploravelmente a laca bariolada e translúcida do guarda-vestidos magnífico de Boule: e ouviu-se o estoirar de fitas que não havia paciência de desatar, e o abrir de rasgões feitos por alfinetes que não houvera o cuidado de desprender.

O barão, esse refugiara-se, às escuras, na peça ao lado — a saleta de estar da baronesa —, e media o pavimento em longas e rápidas passadas, numa obstinação de exaspero, entre um amontoamento de sombras, a face mal iluminada apenas, a cada fumaça, pela brasa do charuto que os seus dentes torturavam. Aquela altercação vulgar com a esposa tinha-a a sua imaginação veemente avolumado numa gravíssima contenda. E para ele todas as atenuantes, era de supor. Queria-se mal a si mesmo da sua cobarde complacência, dava-se proporções de mártir, vagamente pensava em libertarse pela separação daquela tortura degradante e intolerável. Por boa meia hora continuou assim passeando, todo na galvanização de uma análise que a obscuridade exacerbava, topando frequente os móveis esparsos pela casa, de onde a onde uma contração do tórax soando num rugido cavo, e a ponta do charuto apagado a desfazer-se na trituração raivosa, toda salivada em bílis, das maxilas.