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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/110

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tula, despedia-o; e seguia para casa, com as mãos a escaldar, o cerebro pesado, a came insatisfeita a emperrar-lhe o passo, contrariada; mas radiante, vaidoso, feliz por se haver dominado, por haver podido mais uma vêz ser forte.

E mordia-o uma tentação de contar o seu intimo triumpho aos transeuntes com quem cruzava. E, junto da esposa, desentranhava-se n’uma caudal de sinceros acarinhamentos.

Ultimamente mesmo tinham dado em explodir mais a miude estes movimentos salutares na degenerescencia morbida do barão. Havia até dois garotos que lh’os exploravam habilmente. Sabia cada um onde era provavel encontral-o de noite. Ahi o esperavam. Acercavam-se-lhe, despertavam-lhe a luxuria. E depois, ao vêrem-n’o subjugado e quente, demoravam propositadamente os preludios da entrevista, a dar tempo, a vêr... Na demora acontecia que o barão, se um frio de pejo ou de cansaço o percorria, reconsiderava e mandava-os embora sem se servir d’elles, mas não sem lhes pagar. E os lascarinos partiam lestos, a rir, n’uma gratidão troçada, sem perceberem como podésse haver d’estas abstenções enigmaticas e generosas.

E’ que havia uma outra causa, além dos rebates d’uma dignidade bruxuleante, n’estes reviramentos louvaveis do barão. A sua imaginação excessiva, d’uma lucidez vehemente, prejudicava-lhe em bôa parte a sensibilidade. A cada momento elle ideava que ia gosar d’um certo modo; a sua phantasia azougada e pittoresca levantava, encastellava entre elle e a realidade das coisas umas antecipações de prazer mira-