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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/113

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Tinha arranjado amigos, — uns valdevinos como elle, sem eira nem beira, mas de lume no olho, endiabrados, pândegos, preferindo á maior riqueza do mundo a bella da sua liberdade. Rico tempo !... Quando se derreteu toda a chelpa, — o ultimo lepes fôra-se n'um cafésinhó, á Mouraria, —então começou a vidinha a apertar... mas sempre alegre como um raio ! Foi-se vendendo a farpela; ganhando a sua gorgeta por fazer um recado, segurar um cavallo, entregar uma cartinha; e mesmo apanhando-se um pouco de trincadeira a algum socio na parodia. Quizeram-n’o engajar nesse tempo para o Brasil... Déra-lhe gana de bater no patife ! Elle não era nenhum escravo... E gostava tanto da tropa! Ia todos os dias, horas, para defronte do Quartel General, só para vêr partir á desfilada as ordenanças. E ahi apanhava bem bons cobres, quando segurava os cavallos aos srs. officiaes.De manhã, no inverno, quando a larica e o frio apertavam, largava para a Baixa, á espera da musica da guarda principal. Com o costume, já tinha de cór a escala. Hoje era o 2 de caçadores?... Bem; vinha esperar a guarda ao Rocio. Amanhã era o 2 de infanteria ?... Marchava para o Corpo-Santo. Depois era o 16 ?... Lá estava rente á hora, no alto do Salitre. E depois vinha por ali abaixo, pulando, cantando, á frente dos cobres reluzentos, na troça dos vadios, agitando um lenço em ar de bandeira quando a marcha era catita. E em baixo, na Arcada, depois do apresentar armas e da gaitada final, sentia-se quente, reinadio, lesto, como se tivésse almoçado uma caldeirada de eirozes regadas com um litro do bom torreano.

De ordinário enganava a larica fazendo par-