Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/120

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tupido, espesso do somno, recebia-o com mau modo. Mas o barão bem lhe importava ! Debruçava-se no leito e beijava-o; primeiro a furto, melindrosamente; e d’ahi numa crescente insistência, imperioso, brutal, abrindo-se em acariciamentos piégas, em supplicações ferventes, em denguices de namorado.

Seu preguiçoso... Então isto são termos?... Não tem vergonha !

E ia-se pondo á vontade.

Depois, por altas horas, almoçavam juntos. Almoço lauto. E então á mesa, emoradamente, o barão proseguia na educação do amante. — O garfo empunhava-se assim, a faca d’este modo, e para ali o guardanapo, e o Bucellas era para o peixe, e nunca vertêsse champagne em copos sem pé... Nunca dissesse calhou, mas aconteceu; nem intrujice, era melhor espertalhotice; nem pinoias, antes meretrizes; nem puz-me na alheta, mas safei-me a tempo. Nem chamasse aos municipaes guitas, nem bufos aos espiões.

Se saíam ambos: — que cambasse o chapéu um pouco ao lado... assim; aquelle laço de gravata menos symétrico; a luva amarrotada.

E ficava todo o dia de bom-humor.

Eugenio foi tomando azas na familiaridade. A confiança do barão desembrulhou-o. De acanhado que era a principio, timorato e submisso como um escravo, foi-se tornando animoso, dominador, sobranceiro, altivo. Escravo era mas era o barão da sua carne, do sangue que lhe formigava opulento sôb a epiderme viçosa e fresca, da flexuosidade a um tempo effeminada e forte do seu corpo harmonioso. Assim como isto foi conhecendo, o ephebo transformou-se. Ao cabo d’esses dois mêzes, permittia-se já ter