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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/121

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vontade, estipulava exigências, fallava ao barão fitando-o nos olhos, fazia-lhe arrelias. Andava mesmo inclinado a dar-lhe falta um dia. — Se elle se zangava?... Qual!... Tinha-o seguro, bem via. O fidalgo queria-lhe com uma gana cada vez maior. E, que o despedisse !... Não faltaria quem lhe continuásse o modo de vida... Ou melhor... Já bastantes lhe tinham mandado fallar... Então brasileiros! Cada brilhante!... Deixar de tolérias; ia viver mais na liberdade. Se o mostrengo não gostasse, que o levásse o diabo !

E desde o dia em que féz esta reflexão emancipadora, nunca mais Eugênio se prendeu com horas de estar em casa, com emprazes de entrevistas, com attenções, com receios. Ao bello do ar livre, sempre que lhe appetecia. Não para se prostituir com outros. — Futres ! — Mas porque era a melhor coisa d’este mundo — vadiar !

Muita vez então aconteceu chegar o barão e encontrar a casa deserta. A sr.a Anna, interrogada:— que o menino agora saía muito... mas que não sabia por onde se gastava. — O barão ralava-se. Tinha com Eugênio scenas violentas. Começava iracundo, accusava-o de ingrato, de indecente, de o trahir dando-se a outros homens... Logo, quebrado pela dura impassibilidade do ephebo, arrependia-se, implorava perdão, lamuriava as desculpas cobardes com que se roja aos pés do juiz um criminoso, perguntava-lhe numa tremura anciosa — se já não era amigo?... — largava quanto dinheiro o lascarino exigisse. E no descalabro moral d'estas reconciliações obscenas ia-se, a um tem- po, erguendo cada vêz mais solido o império do rapaz, e cavando cada vêz mais fundo o envilecimento do barão.