O barão vincou o sobrolho, sem responder.
Vaes fazer Chronica dos Bastidores? — tornou o rasurado. — Que tal é o Foragido?
E o barão com um grande desdem, alongando os labios:
— Borracheira!
O dialogo caiu. Aquecia. O ar pesado, deleterio, impregnava-se d’um cheiro espesso ao gaz e a tintas gordas; tinha esta quietação relentada e molle que a falta de renovação e de aceio determinam. Ouvia-se distinctamente a pressão rumorosa do gaz nos extremos da vara de ferro, o arranhar das pennas no papel, e, mais longe, o enfileirar do typo nos graneis. Havia occasiões em que no andar de cima estrondeava, abalando o tecto, uma tropeada de creanças. Então uma chuva de caliças inundava a mesa, como graniso. E logo o do annel resmuneava: — Emporcalham-me o doce estes diabretes! — Um ratinho tinha avançado d’um vão de janella, primeiro cauto, manhoso, circumvagando n’um receio os olhitos de azeviche; depois mais seguro, em saltos rapidos, guloso; e roia agora as migalhas dos bolos junto á mesa, pausadamente, delicadamente, com a familiaridade e o abandono de quem se vê entre amigos, um leve arrepio voluptuoso a increspar-lhe de onde a onde o pello avelludado.
O barão escrevia, escrevia... Mas toldava-lhe o cerebro a obsessão dos sentidos. Afogado na sua obstinação lasciva, o pensamento recusava-se a formular juizos que a ella se não reportassem justos, a expressão falhava á plaslicidade das ideias que se lhe debatiam no cerebro, á procura d’una forma, confusamente. A