Saltar para o conteúdo

Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/18

Wikisource, a biblioteca livre

— Eu não entro por ora. Logo nos vemos, lá dentro.

Um impulso da onda separou-os.

O barão deu de frente então com um rapazito que vendia pasteis. Teria 15 annos. Pelle morena, olho avelludado, typo insinuante de marnoto, camisolita de xadrez azul e preto, calça branca muito justa, á frente uma grande cesta vestida de oleado, em cujo interior destacavam d’uma alvura de toalha varias gulodices. Como viu o barão incaral-o com insistencia, o rapaz naturalmente aproximou-se:

— Quer pastelinhos, freguez?

E offerecia-lhe o cesto, d’onde vinha um cheiro môrno a canella e a manteiga.

O barão porém respondeu-lhe: — Não, filho... não quero pasteis! — com uma expressão tão nuamente lubrica, que o rapaz retrucou, n’um tom de desprezo sacudido, dando-lhe as costas:

— Olha que gajo!... Vossê comigo engana-se!

O barão circumvagou rapido em torno com a vista, a vêr se alguem teria ouvido, e rodou viscoso para longe, infiltrando-se, annullando-se na massa anonyma d’aquella multidão turbulenta.

Aproximára-se do theatro das Variedades, onde retinia o signal de começar o espectaculo. Tinha entrado quasi tudo; os retardatarios premiam-se ao fundo do corredor estreito que dava para a superior. Á porta, dois contractadores apenas, um policia, e, sentada no ultimo degrau sobre a rua, uma velhota, de taboleiro á frente, coalhado de quanto ha de mais pelintramente indigesto em materia de doçura, com uma vela protegida por um cartucho de papel côr de rosa.