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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/19

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D’ali o barão, um pouco á vontade, mais fóra do alcance de incontros inopportunos, continuava a perscrutar com exclusivismo ardente as immediações do Circo fronteiro. Ao descortinar na sombra dos extremos da rua qualquer escorço vago de adolescente que viésse a crescer, aproximando-se, o seu olhar piscante de myope contrahia-se n’uma crispação de espectativa angustiada, e seguia-lhe vorazmente os movimentos, até poder analysal-o, adivinhal-o bem na conformação, no typo, na plastica, no modo de vida provavel, nas predilecções sensuaes do temperamento, quando o rapaz entrava na zona duramente illuminada pelo renque de bicos de gaz tremebrilhando sobre o portal do Circo.

No melhor d’um d’estes alheamentos fervidos de pederasta, o barão estremeceu. Mão amiga lhe pesára no hombro, emquanto uma voz familiar lhe perguntava em ar de adoravel reprimenda:

— Que faz vossê por aqui a esta hora?

Era o seu leal e velho amigo, Henrique Paradella, que descia tranquillamente á Baixa, com a mulher pelo braço.

O barão ia-se trahindo. A subita apparição d’aquelle par honesto e simples, caíndo de chofre, com toda a galharda e lucida expansão d’uma vida exemplarmente calma no torvelinhante mysterio da allucinação do seu vicio, envergonhou-o, aclarou-lhe a razão, deu-lhe a medida do proprio aviltamento, e, como um raio de luz faiscando nas stalactites d’uma caverna, acordou-lhe na consciencia um repellão de remorso. Córou, atabalhoou, agitou-se, e