tambem de quadros e com uma porta fronteira á do quarto de toilette, dando para o gabinete de trabalho do barão. Esta porta era flanqueada por duas grandes columnas torcidas de pau preto, farfalhudas de parras, de cachos, de anjos em regueifas, com dois vasos de Perusia no alto, desgastados, sem brilho, granulosos, d’um estylo purissimo e d’uma lendaria antiguidade; e ás duas porções lateraes da parede dois magnificos consolos encostavam, abarbados de coisinhas preciosas, — pagodes de marfim filigranado, retratos queridos em molduras de pellucia, miniaturas de esmalte, bronzes, conchas, laccas, cinzeiros de malachite.
Depois, parella á parede lisa interior, havia a exterior correspondente, com duas amplas saccadas dando sobre o jardim. No intervallo d’estas, resaltava um contador india embrechado, de pernas obliquas, lineares, singelissimas, todo atropellado na severa amarellidão da sua téca por correrias de monstrosinhos de ébano, ventrudos, rabiosos, a cauda em ponta de dardo, a lingua a sahir n’um jacto da guela a escancaras, e o olho de marfim, branco e redondo. Para cima, vestia a parede um espelho esguio, de moldura de ébano, biselado.
Aos dois cantos, para lá das saccadas, a folhagem glabra e tenra de dois philodendrons naturaes espadanava, em leques luxuriantes, de grossos vasos de faiança do Rato, postos sobre velhos tamboretes persas, de cedro e madreperola. Nos reposteiros, feitos de bourrette espessa côr de madeira e oiro, sinuosava tambem um desenho persa complicado. Sobre os vãos das saccadas, a temperar a luz externa, desciam muito sobrepostas, orlando a bourrette interior,