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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/32

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cortinas finissimas de tulle créme com applicações a branco. Junto da porta do toilette, um pouco á frente, um cavallête vieux chéne sustinha, meio afôfada nas prégas d’uma colcha secular da India, uma tela, assignada Lupi, com o retrato em busto da baroneza. E por baixo do grande espelho doirado espreguiçava-se um largo sophá de pellucia de linho azul escuro, esquadrado em volta por uma tira de sêda côr de oiro velho, e tendo a um lado, erguida nas mãos sobre a espalda cylindrica, uma figura minuscula de mandarim, escarolada e risonha, posta graciosamente a espreitar.

Meia duzia de moveis mais, arrastando ao acaso na alcatifa, cujo tom sanguineo dava um destaque vivo de petulancia á côr tranquilla do recinto. No papel cinzento-adamascado das paredes alizavam-se lampejos de aço, esbatidamente. Do tecto branco de estuque um lustre pendia, de bronze. Saboreava-se a quintessencia do conforto e do agasalho n’aquelle ninho mimado de elegancia. E todavia o barão estava mal, sentia frio. Era tão flagrante, tão profunda a discordancia entre a brutalidade animal dos seus instinctos e a dôce quietação, o familiar abandono, a feminina graça de tudo quanto o rodeiava, que, agora, dissipada a primeira grata impressão da entrada, aquella pacificação hostilisava-o, dando-lhe toda branca, em cheio, nas turbulencias sinistras da sua alma doente, e fazia-o soffrer.

Ergueu-se de chofre e começou a passeiar. Então a baroneza, breve: — Tens ahi os jornaes p’ra lêr.

O barão, machinalmente, veio sentar-se de novo, junto da luz, no mesmo fateuil, e pro-