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Página:O Barao de Lavos (1908).djvu/41

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alma generosa e ávida. Amou alguns dos collegiaes que lhe orçavam pela edade. Foi excessivo. D’estas scenasinhas adoravelmente ridiculas, que são triviaes nos collegios, — trocas de soliloquios inflammados, cartas, exorações, amuos, rancores, ciumes, pugilatos, ensaios precipitados de copula no palmo quadrado das latrinas, — de tudo teve o futuro barão n’um grau exaggerado e quente, a que a sua compleição debil e requintada vestia o maximo colorido. Quando o seu desejo se concentrava, inconfessado, timido, na pessoa d’um collega a quem por qualquer circumstancia elle não podia ou não resolvia declarar-se, então o desgraçado soffria insomnias horrorosas, durante horas e horas de costas na cama, a narina afflante, a palpebra leve, os olhos arregalados para o tecto na escuridão cava da noite, os dentes rangendo rapido e o corpo todo vibrante no arripío d’uma crise nervosa fatal, obsessiva.

Quasi sempre uma evacuação seminal, provocada por elle proprio, ou, as mais das vêzes involuntaria, e determinada sem prazer, por uma irritação quasi dolorosa, punha termo, no quebramento cortado de sobresaltos da madrugada, a este estado cru de excitação. Depois, pelo dia adiante, era o mau humor, a mudêz, as olheiras lustradas de rôxo, um pouco de dyspnea, o refugio no isolamento, a repugnancia ao estudo, o adormecer nas aulas.

D’uma vêz, um collegial, que elle amava immenso, disse-lhe porfim que sim, que estava prompto a corresponder-lhe, mas por forma que ninguem soubesse, e então — que fôsse de noite ter com elle á cella. Combinado. O Sebastião deitou-se e esperou, todo a tremer, sem